“Lugares em que eu poderia ter nascido” é um trabalho que surgiu utilizando os dados de um exame genético adquirido na internet, pelo laboratório de genômica pessoal Genera. Por meio deste teste, é possível identificar minha ancestralidade global, bem como as origens de minhas linhagens genéticas paterna – via cromossomo Y – e materna – via ácido desoxirribonucleico (ADN) mitocondrial. O exame em questão atesta que a maior parte do meu ADN provém da Europa, sendo esta a origem de minha linhagem genética materna, enquanto minha linhagem paterna tem origem na África. O trabalho em si foi realizado a partir de uma versão gratuita do aplicativo para smartphone “FaceApp”, o qual transformou uma única selfie minha em diferentes rostos, de diferentes pessoas, com diferentes gêneros/sexos biológicos e idades, imaginando quem eu poderia ser e sob que tipo de opressão geopolítica eu poderia estar vivendo se tivesse nascido hoje nos mesmos locais em que meus antepassados pisaram há milhares de anos atrás. Estas imagens, unidas por meio de diversos programas e sites de edição, tais como Photoshop, PhotoFiltre e Canva, foram utilizadas como plano de fundo para a obra, que simula um planisfério, brincando com o formato e as dimensões/escalas dos mapas da Europa, África, América do Sul, Brasil, do Estado do Rio Grande do Sul e dos municípios de Cachoeira do Sul (onde de fato nasci) e Santa Maria (onde resido atualmente), questionando onde eu poderia ter nascido caso algum de meus ancestrais tivessem “estacionado” ou “mudado de rota” durante os milhares de anos desde seu surgimento. Enquanto membro da Comunidade LGBTQIAPN+ e, portanto, uma pessoa queer, simulo o mapa de diferentes locais do mundo por meio de arte tipográfica, através do website Wordificator Word Art. As palavras utilizadas para criar a word art são todas relacionadas a políticas públicas atuais voltadas à população LGBT+ que vivem naqueles locais, como direito ao matrimônio, à adoção, à cirurgia de redesignação sexual, entre outros. Com o objetivo de construir uma relação entre o que me antecedeu e o que me sucederá enquanto ser humano, o trabalho se propõe a questionar como uma simples mudança na trajetória de meus ancestrais poderia ter feito eu nascer em continente em que ainda hoje a maioria dos países considera as relações homoafetivas um crime muitas vezes passível de pena de morte, por exemplo.