Ofertório é uma série que deriva da obra Samsara, vídeo arte e animação que aborda a complexa relação entre os animais e nós, seres humanos, e os impactos que causamos no planeta e na natureza. O termo Samsara em sânscrito, pode ser traduzido como “vagando”, “fluindo”. Nas tradições ocidentais é referência da passagem pela vida e o ciclo de repetição de nascimento, vida e morte. Como continuidade dessas reflexões, a série de imagens digitais de Ofertório apresenta a natureza morta. Uma mesa posta com finas rendas e louças, delicadezas que, como em um rito de oferta, são belezas que se apresentam para que nossos confortos se realizem e relembram também a longa tradição de oferendas e sacrifícios de animais que se fazia em busca de bênçãos e abundância. Uma dupla relação se estabelece: aquilo que se oferta e o que nos é ofertado. Aquilo que se extrai e o que é devolvido. A posição que a espécie humana se coloca na relação com as demais espécies e seres terrenos e como a natureza e seus habitantes tem dado a sua resposta. Os pássaros dispostos nas composições foram recolhidos em diferentes situações e revelam impactos invisíveis cotidianos. O filhote de quero-quero, não resistiu ao calor e a seca. Os outros pássaros foram atropelados. O primeiro, vítima das mudanças climáticas os demais de nossa avançada e imprudente tecnologia de transporte. A fotografia digital além de sua enorme capacidade de reprodutibilidade e velocidade de deslocamento no espaço e tempo no ambiente computacional, tem hoje à sua disposição programas de manipulação de imagens. Uma composição que remete as antigas pinturas de natureza morta feita com tal tecnologia, subverte e brinca nessa linha do tempo, sem deixar de trazer questões tão atuais.